Meu caro,
Depois que o perdi dos meus sonhos algo em mim mudou. Essa é uma importância que você nunca chamou para si e da qual, provavelmente, nunca desconfiou, contudo era habitante dos meus sonhos. Não foi chamado a ocupar este lugar, quando me dei conta lá já estava e acostumei-me com a sua presença silenciosa a garantir o lastro das minhas utopias.
Um dia você foi embora dos meus sonhos. Sem que eu pedisse, sem que você soubesse, um dia não o tinha mais por aqui. E depois deste dia algo em mim mudou. Faltam, em meus sonhos, um denominador comum.
O esforço para encontrar outros interlocutores é inútil. As palavras sempre só saiam verdadeiras quando eram direcionadas a você. Não exatamente a você, mas ao seu eu imaginário que morava em um lugar que um filósofo grego um dia soube descrever.
Eu mudei. Sempre fui feita da matéria dos sonhos, hoje sei. Tenho medo de adormecer; temo por pesadelos sem sua ideia a velar meu sono.
Você se foi, e deixou para trás um coração bagunçado que tento organizar em palavras que saem desencontradas, todas, como nesta carta.
Não se engane: não falo de você – falo dos meus sonhos com você. Não se apresse em responder esta carta – ideias não foram feitas para serem tocadas.
Talvez eu esteja com saudade ou apenas precise dormir mais.
Espero que esta carta não lhe tire o sono.
Bons sonhos.