Aceita um bolo?

outubro 16, 2020

Foram publicados dois textos meus na revista literária Fruta Bruta: o conto “Aceita um bolo?” e um comentário sobre o livro A Cor Púrpura. 

A revista inteira está incrível, o pdf da edição de outubro de 2020 pode ser baixado aqui: Fruta Bruta.

Fique muito feliz com o resultado. Vou deixar aqui o primeiro parágrafo do conto “Aceita um bolo?”:

O cheiro de bolo deslizou pelo corredor e me apanhou no escritório. “Um ótimo jeito de fazer a as pazes” pensei. Não que tivéssemos brigado, somos civilizados demais para isso, mas tivemos uma discordância pela manhã e o clima ficou pesado pelo resto do dia.


Um silêncio de Luto

maio 9, 2020

Um silêncio de quintais sem galinhas

De jardins sem roseiras

De tardes sem pipoca e bolinhos de chuva

Sem histórias de muito tempo atrás

Sem radinhos de pilha sintonizados em AM

Sem linhas de tricô e toalhinhas de crochê

Sem superstições e assombrações

Sem álbuns de fotos antigas

Coloridas apenas pelo amarelo dos anos

A tristeza de um mundo sem avós

Memory ou do dia em que fui selecionada em um concurso de poesia

setembro 4, 2019

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“Memory

You need time to listen the silence

To feel the air in your lungs

For the tea to get ready

To forget me”

Tradução: Memória/ Você precisa de tempo para ouvir o silêncio/ Para sentir o ar nos seus pulmões/ Para o chá ficar pronto/ Para me esquecer.

Esse poema de minha autoria ficou entre os 20 selecionados no Raining Poetry in Adelaide (Trad.: Chovendo Poesia em Adelaide). Esse concurso de poesia seleciona poesias que tenham até 4 linhas e um número limitado de caracteres. As poesias selecionadas são pintadas nas calçadas da cidade de Adelaide, na Austrália. A pintura é feita com uma tinta especial que só aparece quando está molhada, por isso o nome do evento é “chovendo poesia”.

Para facilitar a localização um aplicativo com o mapa das poesias fica disponível, e nesse mapa consta também o nome do autor e o título do poema. Quem me contou sobre esse concurso foi o Bernard Guerin, que também teve uma poesia sua selecionada.

Fiquei feliz por ter sido selecionada e poder participar de um evento tão poético, afinal, nada melhor que dias de chuva para ler uma poesia.


Submissão, uma aprendizagem

dezembro 5, 2017
Mulheres tem a incrível habilidade
De ver na agressão
Romance
E desse amor inventado
Tirar forças
Para continuar se doando

Expiação

dezembro 3, 2017

Quando a gente lê poesia

Fica tentado a rimar

Lé com cré

Ré com fé

 

Quando a gente lê poesia

Fica tentado a encontrar

Palavras próprias para expiar

o pecado original da vida


Então é possível escrever desse jeito?

setembro 23, 2017
Lembro da sensação de quando li Cem anos de Solidão do Gabriel García Márquez. A forma como o livro foi escrito provocou a constatação de que era possível de escrever daquela forma. Isso foi em 2004, eu já tinha o blog e a escrita já era uma questão para mim.
Li muito Garcia Márquez nos anos seguintes. Lendo Cheiro de Goiaba, que é uma espécie de biografia em forma de entrevista, me deparei com uma fala sobre o seu percurso como escritor. Ele contava do dia em que leu a Metamorfose do Kafka pela primeira vez, e que logo nas frases iniciais pensou que o livro o tocou como uma revelação de que era possível escrever livros daquele jeito, metafórico e fantasioso que lembrava a maneira com que a sua avó contava histórias. Fiquei impressionada com aquela confissão, afinal o autor que havia me tocado tanto, havia passado por uma experiência parecida quando leu outro autor.
Hoje eu estava assistindo a uma entrevista da Angélica de Freitas, autora do ótimo livro de poesias Um útero é do tamanho de um punho. Nesse vídeo ela conta que aos quinze anos leu o Aos teus pés da Ana Cristina César e naquele momento também pensou: então, é possível escrever desse jeito. Foi muito legal perceber que não foi uma experiência forte apenas para mim, mas que também é compartilhada por tantos autores que admiro.
Conto isso pela alegria de ter passado por esse insight poderoso e libertador na vida de quem escreve.
Conto também por novamente constatar que o impacto da obra depende muito de quem está lendo e de quando se lê. Li a Metamorfose no mesmo verão em que li Cem Anos de Solidão, entretanto apenas o último provocou uma reflexão sobre a escrita. Anos mais tarde também leria A Teus Pés e o insight não se deu com ele.
Outros autores em outros momentos, me fizeram pensar nas possibilidades do escrever.
Depois que comecei a me expressar com palavras, ler livros também se tornou uma forma de descobrir como transcender limites.

Angústia

junho 1, 2017

Ás vezes, espero a morte com uma ponta de esperança de, finalmente, saber o que vai no mundo.

Na maior parte do tempo, aceito a falta de compreensão.  Vivo.


Twitter

março 21, 2015

Uns anos atrás, perdi meu cartão do banco. É uma situação delicada, sobretudo para quem mora sozinha e já não estava passando por seus melhores dias. Fui até uma Agência do banco para acertar isso, e o problema era um pouco mais complicado do que eu imaginava. Contudo, o atendente foi maravilhoso, me ajudou muito. Eu nunca fui tão bem atendida em um banco (e olha que frequento estes lugares desde os 7 anos de idade, quando comecei a fazer serviço de banco para a minha mãe).

Fui até o Twitter e fiz um elogio para o atendente, marcando o perfil do Banco. Ele foi parabenizado pela Agência e parece que ganhou até um bônus (um amigo meu que trabalhava no mesmo banco me contou depois). Uns dias mais tarde, fui até a agência para terminar de resolver o problema e ele ficou emocionado ao me ver, disse que, em anos trabalhando em um Banco, nunca tinha recebido um elogio.

As vezes eu vou até o Twitter elogiar muito.


Sagitário

janeiro 15, 2015

Todos os dias ela me perguntava se eu poderia ler o seu signo no jornal e, ao me ver empenhada procurando pelo horóscopo, falava o seu signo, Touro, com a ênfase que lhe é peculiar.

Emposto a voz e capricho na entonação para cumprir a importante missão.

Essa cena se repete há anos, na casa da minha avó, quando minha tia, deficiente visual, pede que leiamos o seu signo no jornal. É uma daquelas cenas eternas, sei que continua acontecendo mesmo quando não estou lá. Sei que aconteceu hoje e que acontecerá novamente amanhã. É uma certeza que garante que o mundo segue em ordem – pelo menos o meu mundo.

Mas desta vez algo inusitado aconteceu: ao invés de tentar adivinhar o futuro, o horóscopo continha palavras que incitavam a reflexão. Ao terminar de ler o signo de minha tia, eu ficava meditando sobre o que havia lido.

Tanto fiz, que acabei gostando de ler aquelas palavras, e passei até mesmo a admirar o estilo com que eram escritas. Ironia da vida, pois eu que acho – e continuo achando – signo uma bobagem enorme, comecei considerar muito engenhosa a forma como aquele escritor fazia a sua coluna. Lembrei de diversos autores, hoje reconhecidos pela sua qualidade, em no início da carreira escreviam horóscopos de forma anônima, ou escondidos sob um pseudônimo.

Ao retornar para casa percebo de que, apesar de ter lido todos os dias o horóscopo para a minha tia e ter me divertido com isso, em nenhum momento me interessei por ler o meu próprio – até porque, como vocês bem sabem, eu não tenho signo.


Identidade literária: Qual livro o define?

dezembro 5, 2014

Tem histórias que parecem que falam de nós e por nós. Alguns autores criam personagens ou situações que nos surpreendem por serem como a um espelho, por vezes nos apresentando a nós mesmos por um angulo ainda inédito, mas que, indubitavelmente, somos.

E não estou falando de livros favoritos, daqueles que nos fazem perder noites de sono, ou aqueles de leitura lenta que nos presenteiam com um imenso prazer. Não estou perguntado por este livro que você gosta e recomenda a todos. Pergunto pelo livro que você é, gostando ou não.

Eu mesma, se fosse falar de meus livros favoritos, talvez escolhesse algum do Jorge Luís Borges ou do Gabriel García Márquez. Mas para falar de mim não preciso nem de um livro inteiro: um pequeno conto foi suficiente para me representar.

Foi lendo um conto de Clarice Lispector, Felicidade Clandestina, que me reconheci. Foi uma epifania saber de mim por aquelas palavras que profundamente me tocaram e continuam a ecoar pela minha vida.

Ler também é uma intensa experiência de auto-conhecimento – por vezes mística, por vezes brutal, por vezes bela, porém sempre única na sua revelação.

E por isso eu pergunto, caro leitor, qual livro o define?