Todos os dias ela me perguntava se eu poderia ler o seu signo no jornal e, ao me ver empenhada procurando pelo horóscopo, falava o seu signo, Touro, com a ênfase que lhe é peculiar.
Emposto a voz e capricho na entonação para cumprir a importante missão.
Essa cena se repete há anos, na casa da minha avó, quando minha tia, deficiente visual, pede que leiamos o seu signo no jornal. É uma daquelas cenas eternas, sei que continua acontecendo mesmo quando não estou lá. Sei que aconteceu hoje e que acontecerá novamente amanhã. É uma certeza que garante que o mundo segue em ordem – pelo menos o meu mundo.
Mas desta vez algo inusitado aconteceu: ao invés de tentar adivinhar o futuro, o horóscopo continha palavras que incitavam a reflexão. Ao terminar de ler o signo de minha tia, eu ficava meditando sobre o que havia lido.
Tanto fiz, que acabei gostando de ler aquelas palavras, e passei até mesmo a admirar o estilo com que eram escritas. Ironia da vida, pois eu que acho – e continuo achando – signo uma bobagem enorme, comecei considerar muito engenhosa a forma como aquele escritor fazia a sua coluna. Lembrei de diversos autores, hoje reconhecidos pela sua qualidade, em no início da carreira escreviam horóscopos de forma anônima, ou escondidos sob um pseudônimo.
Ao retornar para casa percebo de que, apesar de ter lido todos os dias o horóscopo para a minha tia e ter me divertido com isso, em nenhum momento me interessei por ler o meu próprio – até porque, como vocês bem sabem, eu não tenho signo.
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