Carta ao coração de um estranho

Você não me conhece, por isso, vou começar me apresentando. Gosto de sorrir e cantar. Gosto de ver as pessoas próximas a mim sorrindo. Minha alegria é algo fluido e constante, mas não tente prende-la. Minha alegria é natural e selvagem. É como o pássaro silvestre que quando preso perde o canto.
Um dia nós nos encontraremos – eu gosto de conhecer pessoas – serei gentil com você e espero fazê-lo sorrir. Se a conversa fluir, você se sentirá como se estivesse conversando com alguém que conhece há muito tempo – e ficará admirado com isso. Estará à vontade, confortavelmente à vontade, e é ai que as coisas começam a dar errado. Para você é como se me conhecesse há muito tempo, mas, para mim, você continua a ser um desconhecido. Não tente criar uma intimidade que não existe. Não fale dos meus sentimentos como se os conhecesse. Lembre-se do pássaro silvestre. Se tentar me apreender com sua intimidade artificial eu deixarei de cantar e você não vai gostar disso.
Intimidade é um laço feito de um material delicado chamado tempo que deve ser tecido com cuidado para que o resultado final não seja parecido com uma gaiola.
Calma, é o que peço.
Escrevo porque ainda não nos conhecemos – para mim, você é um estranho.
Espero nosso futuro encontro.
Até.

5 Responses to Carta ao coração de um estranho

  1. Djabal disse:

    Gostei tanto da delicadeza do pedido; apesar da firmeza e da clara demonstração do canto selvagem do pássaro. Sentimento não é poder e dominação. Sentimento é relação de amor e carinho. Beijos.

  2. bic azul disse:

    Mas és eternamente responsável pelo que cativas.

    Adoro te ler.

    Beijos.

  3. pedrita disse:

    o problema de irmos nos apresentando é que mostramos aquilo que queremos que vejam. beijos, pedrita

  4. thiagoyokota disse:

    Lindo o que escreveu!

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